HELENA
Arnoldo Pimentel
Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.
Valeu cara, confesso que fiquei um pouco emocionado ao ler novamente, minha mãe Helena ainda é muito especial pra mim.
ResponderExcluirSei como é, deu pra sentir sua dor.
ResponderExcluiressas dores nunca passam.
Olá!
ResponderExcluirComo não tenho outra forma de contato, uso seu blog para convidar, em nome do Poesia Simplesmente, o grupo Gambiarra Profana para participar do XII Festival Carioca de Poesia, no evento de rua na Praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana, no dia 16 de novembro às 16h30. Como não temos patrocínio, somos os próprios produtores e organizadores, ou seja, além de poetas, "botamos a mão na massa" para que o evento aconteça. Por isto, já incluímos seu grupo neste dia, pois foi a única forma de garantir seu nome no folheto de divulgação. Deixo meu blog para contato: www.grupopoesiasimplesmente.blogspot.com
E meu e-mail: delbrasi@gmail.com
Seria muito bom contar com vocês!
Um abraço