domingo, 29 de maio de 2011

VERDE LIMÃO



                                                                     VERDE LIMÃO 


Acho que a lua já se deitou
Procuro levantar
Olhar o silêncio do quarto
E caminhar

Lá fora é só mais um dia
Em que tentarei encontrar
O significado
Da minha alforria

Passo pelas ruas
E vejo que o sol
Nem para todos
Quer se levantar

O sol irá apenas passar
Pelo céu que cobre meu rosto
Que engole meu dia

Antes do anoitecer preciso me encontrar
Seja em meu único cômodo da casa
Ou quem sabe em algum ponto
Perdido do meu mapa

terça-feira, 24 de maio de 2011

Restou juntar
os restos soprados
pelo vento do passado
catei os mil pedaços
silenciosamente
eram vias, eram veias,
eram vultos e olhares.
Os vestígios desordenaram
a coreografia do meu ser
e sugiram depressões,
alergias, dopaminas,
e, mesmo assim,
o coração pulsava
querendo enganar-me
novamente.

Jorge Medeiros
(22-04-2011 - 01:25h)

sábado, 21 de maio de 2011

Quarto Azul




Em câmera lenta
subo a pequena escada
chego ao corredor estreito
de onde avisto uma intrigante
porta encostada.

Numa triste submissão
a uma força superior
caminho sem pensar em nada
em direção à porta encostada.

Porta feita de madeira marrom.
Marrom que lembra minha infância.
Não sei se querida.
Não sei se partida.
Não sei se perdida.

Empurro a porta.
Vejo um quarto.
O quarto é azul.
Um azul de vários azuis.

Azul-céu.
Azul-mar.
Azul-noite.
Azul-piscina.

Dentro do quarto
há uma cama.
Sobre a cama
há uma pessoa nua.
Por cima da pessoa
havia várias moscas a voarem.
Não sei se desnorteadas.
Não sei se mal-amadas.

Sentei do lado da pessoa nua
e ela me falou de coisas
que pensou, que falou,
que comeu, que bebeu,
que desejou, que amou.

E sem saber ela me conduziu a planetas desconhecidos,
me apresentou a seres bizarros,
me fez cheirar aromas finos,
provar pratos requintados.

Foi quando notei que eu também estava nú.
E que as moscas haviam se transformado em estrelas
que cairam exaustas no chão.

E a cama já não era mais cama.
Mas um pequeno barco a vela.
Vela que era pura seda,
puxada a vento que não existia.

E o quarto virava pura água.
Não sei se de mar, ou de rio.
Só sei que virou o barco,
nos fazendo nadar.

Nada
era eu
Paralisado diante daqueles acontecimentos.

E o que eu vivia se tornava puro sonho.
O que eu sentia se transformava em raiva.
Raiva que até hoje não passa
por eu ter conseguido me salvar daquele doce naufrágio.
Naufrágio que me fez esquecer o quanto eu sou real.

Mas tudo foi extinto como um vulcão.
E minha amada pessoa nua
agora era um personagem de ficção.
E meu saudoso quarto azul
um delírio de um jovem garotão.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados

ARAMES



Gambiarra Profana, o coração que pulsa a minha poesia (Arnoldo Pimentel)
Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata
(Fabiano Soares da Silva)

ARAMES

Minha poesia é cheia de lugares comuns
Com alguns quadros espalhados
Dias quase sempre nublados
Tijolos assentados

Ela navega bem longe da filosofia
Pega algum violão emprestado
Às vezes sorri, às vezes chora
Às vezes tenho vontade de ir embora

De caminhar mundo a fora
Pegar carona numa música
Que me faça bem ao ouvir
Que me leve para outrora

Minha poesia é como folha solta no vento
Rasgada pelos arames farpados
Por muros que escondem o outro lado
Pelo paraíso prometido que será abandonado

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Santuário do meu ser

Nesse santuário
que é o meu quarto
acalento minhas dores
esmiuçando-as ao baforar
o cigarro e inebriando
o ambiente com odores
de canela e menta
O pensamento deita fora
todo o desconforto
e temor do contato
com o outro
que é sempre fosco
que é sempre oco
que é sempre frio
e incalculavelmente
inverossímel.

Jorge Medeiros

( 21-09-2011 - 21;36h)

sábado, 14 de maio de 2011

ANTES QUE...

Seja aprisionada pelo seu sorriso,
E sinta que a vida não fará mais sentido sem você
Antes que tenha certeza que você é tudo que preciso
Antes que eu perca a razão e no amor volte a crer

Antes que sua solidão misture com minha carência
E suas mãos toquem novamente as minhas
Antes que eu seja vencida por minha impaciência
E passe a crer que perto de você eu não esteja sozinha

Eu voarei rumo aos pinheiros, perto da tristeza
Onde as noites são frias, os dias são longos
Eu estarei a meditar na sua simplicidade e pureza

Na paz que emana de você, na sua doçura e nobreza
Eu irei pensar no silêncio da minha incompreensão
Não diga nada, talvez não resista à dor de um sincero não

Eu cheguei no tempo que é para ti a alto-reconstrução
Em que preferes a solidão latente no seu meigo olhar
Eu irei antes que, seja dominada pelo desejo de ficar

E quando este papel envelhecer,
Saiba que esta poetisa que hoje te escreve apesar
De nada ter, desejou ter tudo e, tudo para ela, é você.


sábado, 7 de maio de 2011

FILHO CAÍDO

Filho que um dia embalou
Amamentou
Filho que sempre amou

Aquele ali caído um dia foi seu filho
Filho que sempre desejou vê-la morrer
Filho que um dia deixou de ser
Quando escolheu a violência como religião
Como ganha pão

Filho caído com 8 buracos no peito
Para ele
Ela era apenas a puta que o pariu
O filho que partiu

Agora ela sentiu alívio
E agradeceu a Deus
Pelo o que aconteceu
Com o filho que seu sacrifício nunca reconheceu

Que se estremeceu
Até morrer na calçada
Até não ser mais nada
Filho que só trouxe dor
E a violência levou


terça-feira, 3 de maio de 2011

Derramado




Venho suave
Beber o vinho tinto
Da cor do sangue quente
Tinto como o molho derramado.

Venho tinto
Beber o vinho suave
E comer a massa quente
Que abriga o molho
Da cor do sangue derramado.

Venho quente
Beber o sangue tinto
Entre a massa molhada
Da cor suave
Do vinho derramado.

Venho molhado
Beber o molho tinto
Na massa suave
Da cor quente
Do sangue do meu eu derramado.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.