sábado, 26 de fevereiro de 2011

Marcio Rufino no Putzgrila



Na noite do dia 19 de fevereiro de 2011 aconteceu em Nilópolis a décima edição do evento Putz Grila que envolve música, teatro e poesia. Eu tive a honra de participar representando os coletivos que faço parte que são o Pó de Poesia e o Gambiarra Profana no vídeo acima eu declamo os poemas Louco Currículo e Mulher-Hiena.

DÉCIMA VALQUÍRIA



Quando já não podia falar, abriu seu coração, sem a consciência do que era verdade.
Não havia romance, nem fora, nem dentro dos castelos, feitos para as grandes festas e batalhas, amor verdadeiro não existia, apenas orgias, fato que a fez se rebelar, desejava viver seu amor, por isso tomou as rédeas do seu alado e voou acima das quimeras construídas, perturbadoras e impertinentes, partiu para um lugar longe, bem longe! Atrás da colina, perto da imensidão, onde nascem às coisas desejadas, aquelas que fascinam, lá estava o que seria o seu tesouro, o diamante precioso, o guerreiro desejado e escolhido por ela, para viver. Saiu sem a ordem de Odin, por não o reconhecer como pai, protegida pelo elmo, mas sem as lanças, ela pretendia ganhar seu amor, porém desarmada, mas ao chegar ao lugar da batalha, onde estava seu guerreiro, antes que ela tirasse seu elmo e declarasse seu amor, com uma lança atirada de longe, friamente o guerreiro a matou.
 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Faltou luz




Faltou luz na rua.
Estou na escuridão.
Estou nas trevas.
Estou no vácuo.
Refletindo o que me resta.
Que uma só estrela
não ilumina toda a terra.
Ouço vozes.
Vejo vultos.
Sinto pessoas.
Reclamando
cantando
conversando
xingando.
Busco um sentido.
Procuro um sentimento.
Viro um nó cego
na garganta do mundo
que me move parado no breu
e se divide
entre o medo e a volúpia
o receio e a malícia
o pavor e a luxúria
o terror e a cobiça.
O quero eu desse lugar?
O que quero eu de mim?
Porque permito que o que eu não quero
venha me humilhar
e rebaixar toda a idéia e vida
parida em fim?
Cada coisa tem seu tempo
firme ou nublado
limpo ou nuveado.
Não me preocupo com o que já era para ter chegado
mas com o que está para chegar.
No meio do nada
recobro um verde-esperança
vindo de um sonho azul-céu
trazendo a luz que volta, mansa-branca
dentro dos seus olhos castanhos de mel.

Marcio Rufino
(Do livro Doces Versos da Paixão)
Crédito da imagem: site Baixaki.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

APOCALYPSE (TRILOGIA) (Arnoldo Pimentel)


                                                                APOCALYPSE 1.3

Não quero passar
O resto do tempo
Sob a terra umedecida
Tendo a lápide
Os dizeres:
Não sei de onde vim
Não sei pra onde vou
Nada sou



Se você não preparar seu coração
Ficará como eu
Num deserto de sal
Deserto sem sol
Sem clamor
Banhado pela dor
Perdido
Habitado pelo medo
Medo de ser esquecido
Esperando o fim
No abismo sem fim


                                                               APOCALYPSE 3.3

A dor ainda queima meu corpo
Apesar do tempo
Apesar do arrependimento
Que mesmo cortando o horizonte
Ainda não chegou
Nem mesmo o sangue
Que derramei
Amansará minha dor
A navalha ainda está acesa
E minha garganta está próxima
Do furacão que a cortará
Assim as rochas que protegem
Meu coração, e são frágeis
Irão desmoronar no meio da brisa
Iluminadas pelo luar da doce ilusão
Que o tempo levou
Pelo tempo que acabou

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Negra Loura




Desceu em Belford Roxo
De um ônibus que vinha de Vilar dos Teles
Sua pele era de feijoada
Mas seu cabelo era puro trigo.
Sua pele era de noite
Mas o seu cabelo era o horizonte de tardinha.

Falsa britânica
Nórdica preta
Africana de cabelo pintado entre o castanho e o dourado
Zulu disfarçada de branca.

Entrou na padaria
Pediu um refrigerante
E cruzou suas grossas coxas
Debaixo de um curtíssimo jeans rasgado.

A rapaziada toda olhou e babou
Ela toda no pensamento
Imaginando estar no século retrasado
E possuir aquele território à revelia
Que parece ter saído de uma letra
de Benjor ou Melodia.

Bebeu tudo numa só golada
Pagando a conta
Saiu não só levando
O louro e duro cabelo entrançado
Acima do sorriso amarelo
Mas também o olhar de todos nós
Entre aquele busto
Que eram dois maduros jamelões gigantes
Embaixo daquele vermelho sutiã.

Sumiu entre pagodeiros e funkeiros
Entre credores e devedores
Entre viajantes e farofeiros
Entre pequenos empresários e vendedores.

Ela saiu do nada
E foi com tudo para qualquer lugar
Tomando seu sorvete demais
Deixando em sua língua
Que nos banhava em sonho
O sabor daquele morno verão.


Marcio Rufino
(Extraído do livro "Doces Versos da Paixão" do próprio autor.)

Crédito de imagem: Baiana de Gabriela Boechat (blog Artemundo Gabriela Boechat)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Harmonia

A vida expressa seu momento são
No almoço de domingo
Encontros cordiais e costumeiros
As senhorinhas trocam
Segredos e receitas
Os compadres contam piadas
Espraguejam no futebol
(seria tão bom se fosse só isso)
Mas a vida é febre
Que rouba os olhares
Das senhorinhas na chegada
Do encanador com suas
Hábeis ferramentas...
E no transitar dourado e brejeiro
Da babá que distrai
O bebe entre os cavalheiros torcedores...
E tudo é tão familiarmente harmonioso
E tão sincero.


Jorge Medeiros

(Esta poesia foi reirada do livro: Bagagem de Mão, do próprio poeta)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Verdadeira História de Como me Afoguei em uma Gota D'Água

Tenho as unhas sujas
como as de um cão que vai à feira
com sacos plásticos pendurados nas orelhas.

Mesmo sem ouvidos posso ouvi-los
esmurrarem com elegância e belos
o alfaiate contra a parede do ferro-velho.

Mesmo sem os dentes da frente
permito-me sorrir incendiário
a cada bordoada que ouço em meu imaginário.

Mesmo sendo eu.
O alfaiate, o cão e o banguela.
Não sou novela.


(Sergio-SalleS-oigerS)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mãe D'Água




As gotas caem no azul
Tão indecentes como um beijo na boca
Molho o meu corpo
Como se a água fosse saliva
E brotasse dos orifícios da minha pele.
O velho rabo de peixe mexe e remexe
A espuma de água-doce.
Mas a benção desse refrigério
Está na humildade em que eu
Bebo do leite de seus seios
Que foram feitos para amamentar crustáceos.
Água; verdadeiro corpo da terra.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

POEMAS PARA POETAS DO GAMBIARRA (Arnoldo Pimentel)

SILVIAH CARAVLHO

É como o beija-flor
Que encanta a manhã
Que semeia inspiração na flor
Flor que se solta no tempo
Rasgando o vento
Traduzindo em poesia
O mais puro dos sentimentos


MÁRCIO RUFINO

Uma casa com lareira
E seleiro
Um veleiro
Um paraíso
Para descansar enquanto olha o mar
Enquanto espera a flor da poesia
Em seu coração desabrochar
E emoções espalhar
Ao redor do luar


IVONE LANDIM

Tintas jogadas
Imagens inspiradas
Poesia iluminada
Canções e sorrisos
Pintam o quadro
De sua caminhada


SERGIO-SALLES-OIGERS

É apenas uma miragem
Que não inventa imagem
Apenas sente essa prisão interior
Cárcere sem grades
Que exorciza nas palavras
Sem paisagens
Canções que se desgarram da dor


DIDA NASCIMENTO

Jeito sutil
Como o mês de abril
Livre como reggae
Que o faz voar


LENNE BUTTERFFLY

Sorriso que abranda
Os ventos e a tempestade
Olhar colorido pela amizade
Coração que pulsa amor e humildade


VINICIUS CERQUEIRA

Ouço silêncio
No ocaso da ponte
Que atravessa o córrego
No caminho da fonte


RODRIGO SOUZA

Um olhar indeciso
Sobre as flores do campo
Que o esperam
Para secar seus prantos


FABIANO SOARES DA SILVA

Sem vida aparente
A liberdade fica escondida
Em veredas do coração
De quem a sente


GABRIELA BOECHAT

Borboleta que pintei
No quadro pintado
Pela esperança
Nos tempos de criança


JORGE MEDEIROS

Cortina de fumaça
Trem que passa
Deixando a solidão na praça


RAFAEL POLÊMIKO

Todos os rumos
Traduzem no violão
Minha solidão


AGNALDO ESTRELA

Todas as palavras
São sementes de vida
Que alcançam
Até o campo infértil
Que toca até aquele que não quer olhar


CLÁUDIA CHERR

Poesia em movimento
Deslizando no palco
Cores no rosto
Gestos simples
Tateando lugares
Inventando olhares


CRAKEN ICARUS

Quem sabe no amanhã
Eu ainda consiga olhar
Com jeito de felicidade
Consiga cantar minha
Eterna mocidade


ROSILENE RAMOS

Descer ao fundo
Pode não ser o fim
E sim um renascer
De quem não tem porque viver


Todos os poemas acima são de autoria de Arnoldo Pimentel e são dedicamos aos compranheiro do Gambiarra Profana, não são inspirados e sim dedicados a esses amigos que são tão importantes em minha vida poética.



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O cravo nú




Por que tua flor rebelde
Insiste em desabrochar na minha frente?
Acariciarei-te. Oh, flor
Para te deleitares com meus mimos
Lamberei tuas pétalas
Apertarei os teus espinhos
Eu ousado zangão
Beberei teu doce-amargo néctar
E te caberei inteira dentro de mim
Até morreres sufocada
Com o calor do meu desejo
Para que assim os campos
Nos libertem e nos mostrem
A verdadeira face da vida
Pois tudo aquilo que a princípio
Não se identifica, com o tempo
Vai se deixando revelar aos poucos
Mesmo que involuntariamente.

Marcio Rufino

domingo, 6 de fevereiro de 2011