quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A CASA DAS MORTES



 Eu tinha medo da Kombi azul
Quando ia à padaria comprar balas
Beirava os muros para esconder-me da Kombi azul
Eu tinha medo da Kombi azul

A sala de aula ficava vazia na hora do intervalo
Vazia como as vidas interrompidas
Como os corpos torturados, mutilados,
Com as almas penduradas pelo pescoço na sala vazia
Almas que nem o crucifixo usado pelo algoz absolvia

A professora não dava aula de democracia
Eu não sabia o que era democracia
O dicionário não tinha a palavra democracia

Uma vez eu estava com minha mãe em Nova Iguaçu
E vi os homens verdes com seus cassetetes
Perfilando e batendo em pessoas
No beco da Ducal
Eu tinha medo dos homens verdes
Dos capacetes da PE

Na estrada para Areia Branca
Tinha uma casa abandonada
Onde as árvores do quintal balançavam
Até em noites sem vento
Em noites sem lua
Em noites com lua

Parecia a casa das mortes
Eu tinha medo da casa das mortes
De olhar a casa das mortes
De entrar na casa das mortes
Eu tinha medo...
Da casa das mortes

Arnoldo Pimentel
 

5 comentários:

  1. Querido Arnoldo, que texto espetacular!!!
    Deixo aqui meu abraço fraterno.
    Nicinha

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  2. Não é apenas linda essa tua poesia Arnaldo, ela é emocionante, eu também tive medo das casas das mortes, mesmo tento apenas lindo sobre elas... Meu aplausos a ti.

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  3. Um belo poemas com lembranças muito bem descritas.
    Uma linda semana para você, beijos

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  4. Amigo

    Lindo seu poema
    e tão bem reconheço e sinto esse medo
    pois me agarrei à vida
    de forma estranha
    e sei que a vou perder
    um dia...
    E sofro por saber...

    Gosto sempre de o encontrar,
    mas tenho estado e estou, muito longe de Portugal
    e torna-se difícil escrever.

    Um abraço,

    Maria Luísa

    Maria Luísa

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