Eu
tinha medo da Kombi azul
Quando ia
à padaria comprar balas
Beirava
os muros para esconder-me da Kombi azul
Eu tinha
medo da Kombi azul
A sala de
aula ficava vazia na hora do intervalo
Vazia
como as vidas interrompidas
Como os
corpos torturados, mutilados,
Com as
almas penduradas pelo pescoço na sala vazia
Almas que
nem o crucifixo usado pelo algoz absolvia
A
professora não dava aula de democracia
Eu não
sabia o que era democracia
O
dicionário não tinha a palavra democracia
Uma vez
eu estava com minha mãe em Nova Iguaçu
E vi os
homens verdes com seus cassetetes
Perfilando
e batendo em pessoas
No beco da
Ducal
Eu tinha
medo dos homens verdes
Dos
capacetes da PE
Na
estrada para Areia Branca
Tinha uma
casa abandonada
Onde as
árvores do quintal balançavam
Até em
noites sem vento
Em noites
sem lua
Em noites
com lua
Parecia a
casa das mortes
Eu tinha
medo da casa das mortes
De olhar
a casa das mortes
De entrar
na casa das mortes
Eu tinha
medo...
Da casa
das mortes
Arnoldo Pimentel
Querido Arnoldo, que texto espetacular!!!
ResponderExcluirDeixo aqui meu abraço fraterno.
Nicinha
Não é apenas linda essa tua poesia Arnaldo, ela é emocionante, eu também tive medo das casas das mortes, mesmo tento apenas lindo sobre elas... Meu aplausos a ti.
ResponderExcluirUm belo poemas com lembranças muito bem descritas.
ResponderExcluirUma linda semana para você, beijos
Boa
ResponderExcluirAmigo
ResponderExcluirLindo seu poema
e tão bem reconheço e sinto esse medo
pois me agarrei à vida
de forma estranha
e sei que a vou perder
um dia...
E sofro por saber...
Gosto sempre de o encontrar,
mas tenho estado e estou, muito longe de Portugal
e torna-se difícil escrever.
Um abraço,
Maria Luísa
Maria Luísa