quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Quando o beija-flor lilás beija o doce vento do amor




Amanheceu em mim a idéia de morte.
Uma morte que era ressurreição.
Ressureição de um louco desejo
De esquecer que alguém está me vendo
Por trás do buraco da parede.

Nessas horas eu sou um sonho erótico.
Um guarda noturno.
Um animal exótico.
Um herói taciturno.

Uma abelha-rainha.
Uma fada madrinha.
Uma saia rasgada.
Uma camisinha furada.

Nesse conto de bruxas
Minha metade sapo se funde com minha metade príncipe
Ao ser beijado por uma desonrada princesa vestida de pomba-gira.

E enquanto no céu de minha boca
Anjos sensuais me aguardam
Tocando sinos de boas vindas,
Sonho com meu amargo regresso
Acompanhando o natural desenvolvimento do progresso.

Me atiro na terra e me torno o mais selvagem tigre a correr pelo mato.
Mergulho na maresia e sou um terrível e sedento tubarão
A atacar sua frágil presa por sobre as ondas.

E a saudade de uma época que eu me esqueço
Me lembra que hoje há crianças cheirando coca-cola
E eu espero minha namorada na porta da escola.

O pai dela é bancário.
Sua mãe é professora.
Seu tio é estelionatário.
Sua prima é sedutora.

Me olha com olhar voluptuoso
Celebrando minha rebeldia.
Me abraça um abraço fogoso
Despertando minha lascívia.

Tudo isso acontece quando o beija-flor lilás
Beija o doce vento do amor
E voa seu vôo veloz por cima da Baixada Fluminense
E bica seu viril bico teso
Nas flores mais murchas e resistentes.

Entardeceu em mim a idéia de vida.
Vida que é verdadeiro falecimento de meu corpo
Dentro de um coração quente.

Nessas horas eu sou um cavalheiro andante.
Uma tradução malfeita.
Uma idéia mirabolante.
Uma proposta desfeita.

Um ator canastrão.
Um cinema em última sessão.
Uma pessoa esquecida.
Uma coisa esquesita.

Nesse romance policial
Minha metade PM se funde com minha metade bandido
Ao ser capturado por um respeitável detetive vestido de traficante.

E enquanto no inferno de minha libido
Demônios castos me escorraçam
Me espetando de baixo para cima
Me preparo para minha festejada ida
E acompanho o natural avanço da tecnologia.

No mato sou a mais venenosa cobra a lançar sua língua pelo ar.
Na areia sou o mais astucioso caranguejo a cortar a carne com sua mão-tesoura.
Na parede sou a mais combativa formiga a lutar pela subsistência.
No ar sou a mais fagueira águia a bater livre suas asas.

E o desespero da época qu vivo
Me lembra que ontem haviam crianças que ainda bricavam de roda.
E a vida passa pela minha memória.

Ela vaza pelo meu corpo.
Se aloja em meu peito.
Despenca aos meus pés
E deita em seu leito.

E o beija-flor lilás se deixa tragar pelo vento avassalador
Que nos empurra para o nada
E nos puxa para o nem sei lá aonde.
Nos suga para o fim do mundo
E nos joga aonde Deus quiser.

Marcio Rufino
(Todos os direitos reservados)

5 comentários:

  1. Olá pessoa , depois de tanto tempo sem postar nada no blog, eu estou de volta!!
    Vou contar o babado forte que aconteceu ... eu pensava que o blog tinha sido deletado, mais hoje vii que ele ainda existe, haha nossa que tenso!! Hoje é um dia feliz, meu blog ta vivo. ;D


    tem postagem nova, confere lá?!!!

    te seguindo

    abraço

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  2. Fascinante poema intenso e uma profundidade ímpar. Parabéns!

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  3. Poema demasiado longo.
    Um sonho que acontece e se desfaz na noite dos sonhos. Erótico e por vezes irreal sem coordenação à realidade.

    Obrigado pelas palavras amigas no lidacoelho.
    Os nossos sonhos trazem-nos vidas e sensações por vezes estranhas.

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  4. Penso que é a primeira vez que venho até seu espaço. O que li, aqui, gostei e vou ser seu seguidor. Seja meu também em:

    www.congulolundo.blogspot.com
    www.minhalmaempoemas.blogspot.com
    www.queriaserselvagem.blogspot.com

    Um abração e tudo de bom.

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  5. Vim reler teu poema e deparo com versos respirando, cada leitura é diferente, hoje absorvi muito, e muito de mim em teu poema encontrei esta é a verdadeira função do poeta falar e tocar no coração do leitor fala de si na via de mão dupla e na passagem há o reconhecimento. Riqueza é o exercício da memória buscando limalhas preciosas do universo humano.

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